domingo, maio 18, 2008

o Outro

Tão valioso quanto compreender à si mesmo é reconhecer o outro como ser absoluto. Que precede e transcende ao conhecimento que temos dele.

Um outro ser é um outro universo. Infinito e mutável.

Observá-lo sem esse preceito é reduzí-lo à idéia que fazemos dele. É tratá-lo como matéria de estudo e não como fonte. Acabaremos ignorando, aos poucos, sua intangibilidade e o prenderemos em nossos conceitos. Nossa percepção irá negar-lhe a condição de indecifrável enigma, e ficaremos imunes à sua capacidade de nos demonstrar coisas novas. De nos surpreender com atitudes inesperadas.

Desejá-lo como objeto é limitá-lo a ser simples conteúdo do nosso universo. Mero personagem da nossa história. Quando, mais cedo ou mais tarde, nos der demonstração de sua bela e incensurável liberdade, sentiremos amargar em nossas bocas o gosto das nossas ilusões desfeitas.

Um outro ser é um mundo à se interagir. Que existe independentemente de nossa existência. E, portanto, interagir com ele é ultrapassar a barreira de restringi-lo ao nosso próprio saber e compreensão.

Para acolhê-lo, em sua inesgotabilidade, há que se ver a riqueza nas suas diferenças. O aprendizado em suas experiências. As possibilidades em suas idéias.

Para se estabelecer uma verdadeira comunição com ele, teremos de valorizar as trocas. Respeitar suas particularidades. Enxergar as tentativas de expor, além do que foi expresso.

A primeira coisa para o Homem é a idéia de si mesmo, e é por si que ele avalia o universo. Para romper a relação de superioridade para com o externo, é preciso vencer as insuficiências das formas de linguagem. E a tendência de presumir o que não sabemos.

O outro é um ser completo. Não é o que se diz ou pensa dele.

***

"O modo como o Outro se apresenta, ultrapassando a idéia do Outro em mim, chamamo-lo, de fato, rosto. Esta maneira não consiste em figurar como tema sob o meu olhar, em expor-se como um conjunto de qualidades que formam uma imagem. O rosto de Outrem destrói em cada instante e ultrapassa a imagem plástica que ele me deixa, a idéia à minha medida e à medida do seu ideatum – a idéia adequada. Não se manifesta por essas qualidades, mas kath'autó. Exprime-se." (Lévinas - Totalidade e Infinito)

2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado. rs...

Lisa disse...

hahahaha
não há de quê! :P