sábado, outubro 31, 2009

Lado B

No fim das contas, responsabilidade não é mais que uma série de distrações forçadas.

domingo, outubro 18, 2009

Too old to Punk, Too young to die.

O que existe entre as guerras chama-se interlúdio, paz é outra coisa. A paz depende de uma mudança de atitude: não se trata de abandonar ou ganhar a luta, é sobre não declarar inimigos.


quinta-feira, agosto 20, 2009

Hora de Voltar

A aparente solidão e a necessidade de isolamento que parecem, caracterizar a vida de um artista, não são efeitos de uma disposição gratuita à misantropia – esses estados comportamentais são determinados pelo exercício de uma percepção que constantemente interroga aquilo que cerca seu corpo e sua mente. Quando essa percepção ganha vontade de materialização, a prática de sua obra exigirá dele certa solidão e isolamento.

No ano passado, tentei inscrever um de meus inúmeros projetos literários no programa de financiamento da Funarte. Ele chegou a ser aceito, mas não escolhido. Uma das solicitações feitas pela Instituição era que eu apresentasse uma "justificativa da necessidade de bolsa". Depois de refletir um pouco, percebi que a intenção era de fomentar projetos finalizados e sem patrocínio [coisa necessária no nosso país]. E que meu caso [infelizmente] era outro.

O que eu precisava era de subsídio para realizar algo. Para seguir adiante. Para fixar e focar o desenvolvimento literário. Além, é claro, de possibilitar o suporte fazendário à execução de pesquisas e aquisição de instrumentos de apoio. Mas tais financiamentos não existem. Não para escritores anônimos [o resultado de tais concursos estão aí para provar-nos]. E, talvez, haja justiça nisso.

Assim, minha "intenção de materialização" está presa e condicionada por uma malha de compromissos e deveres que me reduzem à condição de não ser o agente do qual depende meu projeto narrativo. Pois o tempo é a moeda que incrementa a criação artística. É no seu consumo que o artista opera a interiorização do mundo por ele captado.

No meu caso, devo dizer até mais. É no gasto incontabilizado das horas que consigo conectar a beleza plástica da expressão estética à doce banalidade das interações humanas.

Na despreocupação com todo o resto que consigo extrair os motivos silenciosos que atuam por trás das aparências. E, tudo aquilo que, sem apuro de sentidos e despertar de significâncias, ficam ocultos e confusos no interior humano.

Não tenho mais o que dizer. Ainda levará algum tempo para que meu amor pelas Ciências Exatas me libere do tempo que não posso dedicar às Ciências Humanas.

Até lá, o indigitável deve continuar a ser o suspiro literário insatisfeito de uma realizada aluna da Universidade de Brasília. Aqui irei apaziguar minhas próprias contradições.

Meu muito obrigada àqueles que incentivam esta presença. E estejam cientes que darei novamente fôlego à este blog.

segunda-feira, junho 08, 2009

Ser, ou negar.

O dilema de um ser não é decidir,
só pode haver ser se houver sentir.

Sentir ou não sentir?

Ausente o fingimento,
inexiste a questão.
Ser, é sentimento.
Não ser, é negação.

quarta-feira, maio 20, 2009

notas de aula - semestre II

grandeza escalar
A palavra é a unidade da lingua, possui peso. Para se compor um pensamento suave, no entanto, não se faz necessário cuidar a variação das palavras; a densidade de uma frase possuirá dimensão inversamente proporcional à medida de sabedoria utilizada.

(in)disciplina
Indisciplina pode ser uma falha na própria disciplina. Se para uma sobram penalidades, para a outra faltam reformas!

didática localizada
Não existe ambiente mais induzidor de sono que uma sala de aula. Nem local mais instigador de reflexões que a cama.

meio acadêmico
É, ou deveria ser, o ponto entre a teoria e a prática.

quarta-feira, abril 01, 2009

ambiguidade invertida

Assim como o mundo material, o mundo das idéias também possui limitações de extensão: só se pode tocar aquilo que está ao nosso alcance.

Entretanto, ao contrário do universo físico, no qual temos de nos aproximar dos objetivos, no universo metafísico só nos cabe expor, e esperar que outras mentes se aproximem da nossa.

sexta-feira, março 20, 2009

29 anos contando estrelas

Mas que gênio foi esse que expulsou de mim aquela encantadora ilusão, na qual eu imaginava ver, no horizonte, o azul do céu emendando-se com o azul do mar?

Tão logo se explica um fenômeno e já ele perde o encanto. Nossos olhos, então, substituem a magia pela explicação.

É preciso uma boa memória sentimental para conservar a beleza de um mundo esclarecido.

Dizem, que o sentimento não deve dispensar o juízo, e eu penso que a razão, igualmente, não está autorizada à dispensar os sentidos. Assim, um sem o outro, os extremos são horrivelmente insatisfatórios.

Ora, não é, o próprio contentamento, um gostinho de infância em lábios sensatos? Que alegria é completa se sofrer de constrangimento, censura ou culpa?

Talvez, em um texto poético, me seja permitido dizer que a sensibilidade aos detalhes é o que nos faz olhar para céu e divisar constelações. Repetindo, ainda, o aviso daquele engenhoso físico: a imaginação é indispensável.

Julgo que desse prazer de minúcias é que desenvolver-se-á o prazer intensificado. O desfrutar aguçado, capaz de perceber muito mais do que os olhos registram.

E não é, precisamente isso, a consciência das sensações? Exatamente isso o que nos faz habilita à apreciar algo da melhor maneira possível?

O que, sem dúvida, é uma prática bem mais satisfatória do que a pluralização superficial dos prazeres.

****

Alguns anos atrás, contemplando a bela estrela D’alva surgir desacompanhada num horizonte ainda iluminado pelo fim da tarde, após me deleitar durante horas nesse prazer individual que nos proporcionam os livros, entendi, definitivamente, que aquilo que sentimos não pode ser plenamente compartilhado. A solidão seria, afinal, parte do que somos.

Mais tarde, pelo breve período em que morei sob o céu estrelado de Punta Del Leste, no Uruguai, dediquei-me à longas caminhadas pela orla quase insular da cidade, me entregando pacificamente à sensação de isolamento sugerida por sua geografia. Só, então, consegui respeitar e gostar dessa solidão que nos habita.

Mas aconteceu que me persuadi, num certo entardecer de ventos cálidos, nesta mesma data, a subir no encrespado das rochas portuárias para infiltrar-me no recanto dos leões marinhos, e acabei por esquecer das horas naquela paciente espera com a qual observamos o comportamento da natureza. À minha frente, a divergência de tonalidades das águas do Mar Del Plata e do Atlântico se perderam no crepúsculo. E dispus-me, sem sucesso, a procurar o cruzeiro do sul no firmamento.

Esse pequeno espaço de noite, acabou se transformando na recordação de maior nitidez emocional que possuo. Foi lá, em águas estrangeiras, destituída da habitual navegação astronômica, que compreendi, pela primeira vez, que escrever era um modo de comunicação sem obstáculos. Que mesmo sem diminuir-lhe o peso, a solidão podia ser compartilhada. Pois a solidão daquele que escreve, pode se comunicar com a solidão daquele que o lê. Desde então, enfrento o mundo como uma náufraga, que joga insistentemente garrafas com mensagens ao mar.

***

Gosto de olhar para o céu, e refletir distraidamente. De escrever com intenções no coração ou por simples fingimento. Gosto de ser surpreendida por uma estrela-cadente. E de relembrar uma das maiores lições que já aprendi:

Só há resposta se houver estímulo.

quinta-feira, março 12, 2009

EPÍGRAFE PARA MEU ESPELHO

Só se pode tomar posse do presente, todas as outras garantias são, na verdade, abstratas.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

curto e avulso

Observação humanista: o mundo é habitado por seres mundanos.

Lição de história: o saber sistêmico, a agrimensura, o diálogo intercultural são descendentes orientais dos babilônicos, assírios, persas e egípcios, batizados na grécia de ciência, matemática, filosofia...

Análise filológica: a civilização grega foi uma pseudo-república cujo sistema etnopolítico se baseava numa aristodemocracia escravista.

sábado, fevereiro 14, 2009

meio cheio, meio vazio

O autêntico otimista não pensa apenas positivamente, ele aprende com os infortúnios e aceita, com suavidade de espírito, situações que já não podem mais ser revertidas.

O autêntico pessimista não pensa só negativamente, ele antecipa saídas para um eventual infortúnio e se prepara para o pior.

O realista tenta ser um pouco de cada, ele é o próprio meio-termo. Mas não é nem um nem outro efetivamente. O que o deixa, quase sempre, com a pior maneira de encarar a vida.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Escrever é um ato de abandono

Escrever é capturar o instante que passa. É sobreescrever espontaneidade e pré-reflexão na superfície do momento. Quem escreve, deixa a beleza incompleta de seu espírito nas palavras.

E, assim, um escrito é o que foi deixado para trás. No tempo. Um registro do que acabou de extinguir.

Quem escreve, ultrapassa a circunstância, segue adiante... se desfaz de si.

sábado, janeiro 10, 2009

EPÍGRAFE PARA MINHA ESTANTE

Quando alguém abre um livro, quase sempre o faz com a finalidade de descobrir algum remédio para suas carências. E, não raro, encontrará bem mais do que procura. Quando abri os livros que guardo neste acervo, descobri deficiências que não suspeitava ter! Encontrei necessidades que me faltavam...

domingo, janeiro 04, 2009

Sobre a verdade...

Poetas são excelentes fingidores da verdade, e não negam isso;

Escritores são bons delatores da verdade, e possuem nisso seu valor;

Artistas plásticos gostam de ver a verdade por outros ângulos, ou mesmo distorcê-la;

Filósofos são aqueles que, na tentativa de descobrir, acabam sempre fabricando algumas verdades;

Há todo tipo de relação com a verdade por parte dos verdadeiros intelectuais. Mas nenhum deles, e nem todos juntos, podem ser comparados com o cidadão comum e seu vigoroso poder de persuasão:

Mentir para si mesmo é coisa que artista algum é capaz!

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Antecipação

“Assim, sentindo seu ânimo manifestar a intenção de sentimentos tão fortes quanto constantes, sabia que seria necessário evitar qualquer tipo de manobra ou dissimulação. Mas os tormentos físicos que acompanhavam a certeza de seu objeto de afeição, o impediam inexplicavelmente de comportar-se com propósito ou falar diretamente. E todos os minutos que passava ao lado de Lídia eram ofuscados por uma mistura de suspense e constrangimento, que nada tinham em comum com a expectativa de prazer que os precediam.”