quarta-feira, agosto 23, 2006

Os ecos de um sapo

Se possui alma um indivíduo, ela deve ser feita de lembranças. Recordações é o que somos, não o que fomos. O que fomos é passado. Memória não tem índice de consulta, mas devia ter. Tem critérios de fixação e não devia ter.
Sete anos eram, mais ou menos, minha idade acumulada quando aprendi a ler, recebi o privilégio de memorar para sempre este dia. Lembro da sala de aula, da lousa, da expectativa, das sílabas, da dedução:

S e A, SA
P e O, PO
SAPO!

E fêz-se a imagem.
Comprou-me um livro o pai que tenho com o dinheiro que no bolso tinha porque me deixou escolher, e eu escolhi aquele porque pensei que caro livros não deviam ser.
Exemplar ilustrado de uma coletânea infantil, meu primeiro livro não foi um clássico literário, era apenas uma boa e comovente narrativa feita para pequenos corações. Suas figuras eram expressivas e eu, uma menina de detalhes.
Seu final não se apresentava no ponto gramático nem em um clichê disneyworld. Terminava reticente como a vida, deixando um mundo de conjecturas para me ocupar.
E fêz-se a imaginação.
Ganhou palavras novas o mundo, diminuiu-se a hora de brincar.
Encheu-se os olhos paternos de maternal olhar.
Muito das recordações que sou são livros, e daquele olhar que, hoje, briga para enxergar.

Auf Deine schönen Augen
Hab ich ein ganzes Heer
Von ewigen Liedern gedichtet -
Mein Liebchen, was willst Du mehr?
Henrich Heine

terça-feira, agosto 15, 2006

O Gigolô das palavras

"Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda."
Luiz Fernando Verissimo

terça-feira, agosto 01, 2006

Why you should love jazz...

Definir Jazz não é exatamente a imcumbência que darei a este post. Sou consciente dos insuficientes limites da tangente que vem a ser meus conhecimentos creditáveis sobre música. Como séria entusiasta, porém, reproduzo o melhor conceito que já encontrei para o termo, e diz ele que o jazz não é só aquilo que se toca, mas como se toca. Tal hábil afirmativa só pode ser embasada naquele que é considerado um de seus elementos mais característicos: o improviso.
Há, igualmente, justificável consenso quanto a necessidade de haver a presença de swing neste gênero musical.
Junte isso com sua boa capacidade de contextualização auditiva e terá a melhor trilha sonora para bares ruídosos, prédios comunitários, trânsito, recepções, teatro, parques ou locais públicos. Já que  este estilo em particular pode, sem prejuízo à sonância, incorporar-se perfeitamente ao meio em que for introduzido.
Ainda que genuínamente urbano seja, há quem, por preferência ou privado dela, aprecie este ritmo à solitude, e para tal não faltam canções apropriadas.
Talvez, nada do que foi supracitado sirva de justificativa ao pretencioso título que introduz esse artículo, mas porque um blog é, acima de tudo, troca de experiências, foi este texto digitado para que eu pudesse inaugurar o meu publicando o motivo que me levou a amar o jazz: sua capacidade altamente dissolutiva com outras melodias.
Responsável por produzir, ao encontrar o Samba, um casamento tão perfeito quanto o de Simone De Beauvoir com Jean-Paul Sartre.
Duvida?
Experimente ouvir qualquer um desses três álbuns:

Antônio Brasileiro, Tom Jobim com participações de Caymmi e Sting.
Jazz Samba Encore, Stan Getz e João Gilberto.
Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim, os próprios.


Jobim e Sinatra