domingo, setembro 07, 2008

ghost-writer

O título não é uma referência àquele que, tal o fictício Brás Cubas, descreve suas memórias póstumas.

É, generalizando, qualquer um que queira ceder seus escritos para uma autoria alheia mediante acerto prévio. Esse tipo de acordo normalmente envolve anônimos dotados de algum talento e notórios sem inspiração ou tempo, mas há outros casos.

Escritor-fantasma, nesse caso, sou eu à negociar minha paternidade literária com um padrasto célebre.

Tem quem faça disso uma profissão e, antes que me julguem pelo confessado, assinalo que não será o meu caso.

Só consigo explicar como aceitei tais encomendas por uma necessidade incontrolável e não ponderada de aceitação pública. Basicamente, me iludi com a idéia de que a amplitude de tal trabalho serviria para confirmar se possuo ou não aptidões para uma generosa audiência.

Querem saber o que consegui? Até agora, desperdício de tempo.

Não é a falta de aplauso. Não é a discreta remuneração. Nem as críticas. O que me frauda a possibilidade de encontrar algum prazer nessa atividade confidencial é que, simplesmente, o espectro nas entrelinhas não é eu.

No lugar de um antígrafo daquilo que naturalmente rompe meu pensamento, nos textos que produzi só há desvios morais em cima de estruturas democráticas.

A consciência social não passa de uma escrava que mais obedece aos outros que à nós mesmos. Sempre me podou a espontaneidade no convívio interpessoal e, agora, intimida também a prática da exteriorização artística.

Sinto-me subjugada. Inibida pelas opiniões consensuais. Pela gramática. Pela falta de expressão individual.

Isso é o suficiente para me abater e acabou me prejudicando nas outras formas de expressão.

Para resumir, não fui capaz de tecer uma única linha satisfatória nos dois últimos meses. O pobre do indigitável ficou sem postagens. Meus correspondentes não receberam e-mails. Meus ensaios ficaram suspensos.

Portanto, isto aqui é uma tentativa de reação. Antes que a apatia aos verbetes me silencie de vez, comunico que irei exonerar-me do lugar-comum da vida público-secreta que estou levando. E espero regressar, sem maiores traumas, à orbe dos textualistas incompreendidos e sem alcance na qual me sinto à vontade.

E, já que aqui posso atribuir uma identidade honesta ao que é proferido, escolherei o sujeito/predicado que melhor concorda com meu eu-artístico momentâneo para finalizar essa decisão:

Sem mais à dizer, empty-writer.