quinta-feira, novembro 22, 2007

Into The Wild

Primeiro, vieram as linhas:
Jon Krakauer é americano, alpinista e escritor. Escreveu a deliciosa história, em formato paperback (brochura), sobre a vida de Christopher McCandless e cujo título encabeça este post.

No Brasil, traduziram-na por “Na Natureza Selvagem”. E, é claro, lançaram-na no famoso formato “contemporâneo e oneroso”.

Apenas quero desejar à ti, passante, que tenhas um dia entre tuas mãos um volume assim estimulante. Desejo, também, que tenhas tempo livre de tuas obrigações cotidianas para leitura tão modesta. E, por último, que encontres, em teus mesurados sentimentos, pulsação suficiente ainda para entenderes o que te estou à desejar.


Depois, veio a película:
Sean Penn é um ator magnífico, mas nas filmagens de Into The Wild ele fez as vezes de diretor e roteirista: adaptou o livro para o ecrã e repintou zelosamente as cenas dos acontecimentos.

Só isso. Sem críticas ou spoilers. Apenas o instigante voto indicativo de quem enamorou-se com o movimento que o cinema deu à aventura.

Quem o aceitar, no entanto, terá de esperar. A data para exibição no Brasil será, de acordo com o site, no dia 31 de Dezembro. Não indico releases digitais porque só há um TeleSync de má qualidade atualmente disponível.

Err... digo, porque é pirataria e isso é crime, hein!

Por fim, surgiu o som:
Os eufóricos fãs da Pearl Jam andam gritando aos quatro cantos que Eddie Vedder, o simpático vocalista da banda, lançou seu primeiro trabalho solo. Mas a coleção de 11 faixas, que leva também o rótulo Into The Wild, não é, no sentido fiel da palavra, um trabalho solo. É, na verdade, uma autêntica trilha sonora com participações adequadamente selecionadas.

Ao todo, são aproximadamente 34 minutos de músicas marcadas por vocais bem explorados e, em sua maioria, curtinhas e perfeitamente coerentes com o filme do qual são, de acordo com o ensejo, os acordes de fundo ou a expressão musical.

Quero avisar que livro, filme e coletânea musical são obras quase complementares de uma história verídica. Silencio, porém, sobre seus detalhes.

A faixa que ofereço, adiante, tem a letra assinada pelo músico Jerry Hannan e a versão digital disponibilizada por alguém que não conheço. Escolhi-a porque evidencia o teor do contexto sem revelar os desdobres do argumento. Além disso, é encantadora e só ela já vale um post!




à esquerda, foto tirada de Christopher McCandless
à direita, cena do filme Into The Wild

sexta-feira, novembro 09, 2007

de omnibus dubitandum

O que eu quero reiterar é que toda sociedade, até hoje constituída, da qual temos conhecimento, sustentou-se na geometria pirâmidal em que poucos pensam por muitos. E, dessa forma, decidem por eles. Seja direta ou indiretamente. Cônscia ou inconsideradamente.

A pergunta então é simples: o que faz um homem ser uma personalidade em algum ramo da reflexão humana?

Por ordem: Seu estudo amplo e profundo em determinado tema e o sucesso em estabelecer suas considerações sobre isso.

Em outras palavras, ele precisa se tornar uma autoridade no assunto. É preciso que uma maioria lhe dê crédito. Para isso acontecer não há fórmula que não passe pela subjugação do pensamento alheio à certezas particulares.

Essas certezas, principalmente no diz respeito às ciências não-exatas, mas não exclusivo à elas, fundamentam-se inicialmente em crenças pessoais que só conseguem ampla receptividade nos calcanhares da generalização.

Seus arautos, muitas vezes, precisam depositar “pedras” sobre um assunto para alcançar o máximo possível de uma sensação de veracidade. Essa necessidade, possivelmente, ganhou força pelas delimitações feitas no conhecimento humano, as quais titulamos de campos de estudo científico.

Ora, toleremos os vícios, é singularmente inviável tratarmos o conhecimento como ele o é: uma variável aberta e à tudo interligado; Eternamente incompleto, indefinido e multidisciplinar.

O que eu quero dizer é que, em prol da reputação de uma ciência-porção, reprovo a aceitação de qualquer tipo de conhecimento pré-estabelecido como sendo um parecer absoluto. E, quanto mais dogmático for, mais suspeitas jogarei em cima dele.

As ciências se tornam obsoletas quando deixamos de questioná-las. Todos nós: autores e leitores. Gosto dos autores renomados e esse post passa longe de ser uma crítica. É , quando muito, um recordar de que eles são humanos. Tanto quanto o somos nós.

Um filósofo desinibidamente desconfiado me advertiu: sendo a filosofia o amor [filo] ao saber [sophia], o filósofo só existe enquanto leitor. O pensador amará à sua filosofia mais que qualquer outra. Estranho seria justamente ele negar isso.

Sou simpática à crenças mas, sobretudo, as que não se julgam verdades. Gosto das celebridades por trás dos argumentos mas, especialmente, daqueles que conseguem duvidar facilmente de si mesmos.

Para mim, de omnibus dubitandum [de tudo duvidar] é algo para apostar.

Mas eu é que não vou entrar na fila, que já há muito se formou, para por pedras sobre esse assunto. Isso é o que eu penso e, sendo assim, é o que eu tenho à dizer.