quinta-feira, agosto 20, 2009

Hora de Voltar

A aparente solidão e a necessidade de isolamento que parecem, caracterizar a vida de um artista, não são efeitos de uma disposição gratuita à misantropia – esses estados comportamentais são determinados pelo exercício de uma percepção que constantemente interroga aquilo que cerca seu corpo e sua mente. Quando essa percepção ganha vontade de materialização, a prática de sua obra exigirá dele certa solidão e isolamento.

No ano passado, tentei inscrever um de meus inúmeros projetos literários no programa de financiamento da Funarte. Ele chegou a ser aceito, mas não escolhido. Uma das solicitações feitas pela Instituição era que eu apresentasse uma "justificativa da necessidade de bolsa". Depois de refletir um pouco, percebi que a intenção era de fomentar projetos finalizados e sem patrocínio [coisa necessária no nosso país]. E que meu caso [infelizmente] era outro.

O que eu precisava era de subsídio para realizar algo. Para seguir adiante. Para fixar e focar o desenvolvimento literário. Além, é claro, de possibilitar o suporte fazendário à execução de pesquisas e aquisição de instrumentos de apoio. Mas tais financiamentos não existem. Não para escritores anônimos [o resultado de tais concursos estão aí para provar-nos]. E, talvez, haja justiça nisso.

Assim, minha "intenção de materialização" está presa e condicionada por uma malha de compromissos e deveres que me reduzem à condição de não ser o agente do qual depende meu projeto narrativo. Pois o tempo é a moeda que incrementa a criação artística. É no seu consumo que o artista opera a interiorização do mundo por ele captado.

No meu caso, devo dizer até mais. É no gasto incontabilizado das horas que consigo conectar a beleza plástica da expressão estética à doce banalidade das interações humanas.

Na despreocupação com todo o resto que consigo extrair os motivos silenciosos que atuam por trás das aparências. E, tudo aquilo que, sem apuro de sentidos e despertar de significâncias, ficam ocultos e confusos no interior humano.

Não tenho mais o que dizer. Ainda levará algum tempo para que meu amor pelas Ciências Exatas me libere do tempo que não posso dedicar às Ciências Humanas.

Até lá, o indigitável deve continuar a ser o suspiro literário insatisfeito de uma realizada aluna da Universidade de Brasília. Aqui irei apaziguar minhas próprias contradições.

Meu muito obrigada àqueles que incentivam esta presença. E estejam cientes que darei novamente fôlego à este blog.

Um comentário:

Anônimo disse...

é bom saber que estará de volta. Não é facil encontrar espaços de livre-pensar de qualidade nessa rede.

Não permita que o amor pelas ciências exatas seja superado pelas humanas. Tente conciliá-los e assim verá que é no equilíbrio, no caminho do meio, que as considerações mais valiosas estão.