sexta-feira, novembro 10, 2006

Emma Bovary c'est moi!

Para falar de Madame Bovary é necessário seguir às sombras da crítica literária, porque minha análise seria tendenciosa à minha leitura personalista e sua consideração dela teria base na celebridade da autoria da obra, e, desta forma, quando eu confessasse que Flaubert chegou a me dar tédio, você me recriminaria instintivamente. Nada mais humano do que a vontade de defender algo que está sendo injuriado.

Mas não estou atacando o escritor ao dizer o que teria sido falta de gosto ter omitido, nem ele me decepcionou pois não costumo esperar o paraíso de um livro. Faço isso com a música que, tal como o orgasmo, resume melhor a atividade.

Não, nada de julgar as voluptuosidades das paixões aqui, minha admiração por essa obra liga-se ao que ela representa: o sepultamento do Romantismo como movimento artístico e filosófico.

E, é nisto que redunda a pergunta: Sendo do próprio autor a frase-título deste Post (que bem cabe na humanidade), não torna-se ele o Romântico suicida? Aquele que personificou seu desejo, exaurir-se no objeto desejado e nos deixou seu castigo de lição?

Bem, o que você precisa saber, ou se dar conta, é que Gustave Flaubert escreveu uma vingança para sua época, e um testamento para as próximas. Para nós, que temos a existência tão atrelada à inconstância das certezas e a carência de autocontrole, fica a noção de autoconsciência como remissão.

Um comentário:

Gabo disse...

Acho que o grande barato está em “seguir à sombra da crítica”.
Mais que libertador, é um gozo. E que, acima de tudo, permite esse tipo de análise e conclusão que, quase invejosamente, mas com muita admiração, gostaria de ter escrito.