sexta-feira, outubro 13, 2006

Rebanho do absurdo

Empregou-se o epíteto "absurdo" à dramatologia que, advinda do existêncialismo, usou recursos romanescos para ampliar o vazio instalado no íntimo do ser socializado.
O teatro do absurdo serve-se das frívolidades cotidianas para ilustrar o contra-senso em que nos encontramos mergulhados. Como estilo não pretende, explora. E, consoante a tudo que há de contraditório, tem por efeito atrair meus sentidos.
Meu primeiro contato com este gênero foi um encontro precoce, de minha consciência intelectual, com a obra de Qorpo Santo. Aconteceu na biblioteca escolar, quando encontrei um exemplar de "Relações Naturais" extraviado na estante do "Surreal".

Inventando estória!? Veja, desde quando aprendi a fazer uso da narrativa que não traço uma sem lhe meter algumas carochas, mas chamo a atenção para o fato de que não o faço desintencionalmente. Prossigamos!

Mais tarde, tive a oportunidade de ver encenada aquela e outras peças em palcos improvisados na capital gaúcha. Desde então, tenho experimentado o contexto aparentemente ilógico deste universo teatral tão pouco descortinado.
Há poucos meses atrás, aqui em Brasília mesmo, por uma feliz fatalidade que só a ignorância faz por você, caí inadvertidamente na platéia de uma montagem de O Rinocente, de Ionesco. Esse, considerado por muitos o pai da linguagem cênica de que venho discorrendo.
Mas se você, principiante, tomar por dita a indicação latente, e resolver se aventurar nas artes do absurdo, leve consigo discernimento extra para não incorrer no equívoco tolo de confundí-la com a arte burlesca. O absurdo é um animado esboço da sombria natureza humana.

Pois o que é mais triste que um grande rebanho de ovelhas merinas!? - Qorpo Santo

O RINOCERONTE.
Espetáculo adaptado do texto de Eugéne Ionesco.
Direção: Hugo Rodas.

2 comentários:

Pé do André disse...

hey... nao ha mais "Posts"?

Gabo disse...

As contradições são ótimas, não? Nada mais realista que uma história absurda. Nada mais atual que um filme futurista (vide 2001 e Laranja Mecânica, por exemplo). Esse tema me lembra outro autor que gostava de passar sua manteiga no pão do absurdo: Samuel Backett. Acho que os cenários, as situações indefinidas e os diálogos sem sentido de “Fim de Partida” e principalmente “Esperando Godot” são o mais puro retrato da nossa geração. O que estamos esperando? Só pode ser Godot mesmo.